quarta-feira, 27 de junho de 2018

Mudar

Mudar é maravilhoso
Permitir contemplar a beleza
São outras lentes, outros filtros
Mudar
Descondicionar-se
Olhar de outro ângulo
Escolher sorrir
E encontrar o riso de cada coisa
A inspiração de cada instante
Sentir o sopro da vida
Inspirar-se
Incrivelmente perder o medo
e mudar, e de novo mudar
e fechar-se e abrir-se 
como a dama da noite
como a rosa do deserto
e cair ao chão como fruta cai do pé
Madura
Amadurecer e mudar
e ser solo, e germinar
E florir, fazer sorrir!
Da luz viver e mudar o ar
Mudar
Perceber a sabedoria 
de ser vivo, outros tantos seres
Perceber quantos seres em ti habitam
E mudar com eles
Sentir seus instintos, ímpetos
Suas raízes e aromas
Sua roupagem, folhagem nova
que cai e se renova
Sem temer a seca ou a tempestade
Mudar e ao mesmo tempo resistir
e existir  milenar
como fluido eterno de vida
Mudar sem sair do lugar 
Mudar se encontrando mais e mais
exatamente onde se está
Mudar e estar em si e estar em tudo
e a todo momento
Mudar como muda o vento
e achar-se assim a seu tempo
a coragem de continuar...

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Seca

Chora, chora
Chora, chora
Chora.... seca
seca olho
seca terra
seca, seca
seca, seca
seca ... fome
Fome de fora
Fome de dentro
passa, não passa
passa, não passa
não passa ... cansa
Cansa por fora
Cansa por dentro
de fora pra dentro .... seca, seca
de dentro pra fora ... chora, chora
vazio de dentro... úmido
vozio de fora seco
olhares de dentro, quente - esperança
olhares de fora,  frio - ausência
Seca, seca
seca esperança

"Eu voltei para juntar pedaços"

"Eu voltei para juntar pedaços de tudo aquilo que passei"... é assim que quero entitular e iniciar este post. Uma canção, mais uma, como tantas que nostalgicamente eu toco e repito nas cirandas da minha vida.
"Regressar é reunir dois lados à dor do dia de partir".
Anos se passaram da minha partida. Abandonei a escrita, a prosa, à poesia, a quem oportunamente recorria em vezes de desespero e secretamente para em seguida amassar o papel, ou socá-lo em uma gaveta esquecida.
Fiquei de mal com escrever... ao passo que uns passaram a querer me desvendar pela escrita.
Mas a escrita nem sempre é a vida que se leva. Por vezes é a vida que se queria levar, ou a vida que se deseja evitar
Doeu usar por tanto tempo a gaveta

Cinzas

Ela tinha fogo nos olhos
Eles queimavam tudo o que ela sonhava
Era uma espécie de Midas às avessas
O que desejeva mais, virava cinzas ao seu contemplamento

Descobriu assim que a vida era efêmera
Em anagrama a vida “é mera fé”
O que mais importa é o que não se vê

Então ela fechou os olhos antes que pudesse a beleza contemplar
Antes que pudesse a magia estragar
Antes que as cinzas transformassem seu encantamento
Antes que mais uma vez se descobrisse infeliz

Seus olhos cerrados abriam as portas aos sentimentos
E ela os permitiu
Beirou o abismo de olhos fechados confiando no que sentia
Transgrediu regras, ultrapassou fronteiras do que conhecia
E seu sorriso a iluminou de forma que nem mais se lembrara das cinzas

Em um dado momento, no entanto
Seus pés descalços passaram a sentir o calor e ela caiu
E era alto, e frio, e nauseante
Ela caía sem flores no chão para o pouso
Ela caía sem os risos do palhaço que tropeça
Ela caía sem a graça da folha no outono
Ela caía sem a magia da pluma ao vento
Ela caía
E caía
E caía
Em si
Em cinzas

Sim, seus olhos novamente estavam abertos
A pregar-lhe mais uma peça
Quem sabe a última
Pois ela descobrira que não poderia contemplar com olhar
Nem com os ouvidos, o olfato, o tato
Tampouco com seu sexto sentido

Em tudo ela se enganava
E às cinzas sempre retornava
Recolheu-se do pó e se refez naquele instante
A mulher que não queria ser.

sábado, 24 de maio de 2014

Meios

No dia em que tudo começa
A gente não sabe que é o fim
O qual se separa de qualquer princípio
Pelos meios
No dia em que tudo termina
A gente mal sabe que é começo
Tomamos o fim como o avesso
Aversão a tudo que não entendemos ser
Didaticamente nos dividimos
Em fim, início e meio
Vã tentativa de explicar nosso anseio
Fim do que, se tudo se reinicia?
Início de quê, se já começou há tanto?

E seguimos aqui neste eterno meio...

Meios

No dia em que tudo começa
A gente não sabe que é o fim
O qual se separa de qualquer princípio
Pelos meios
No dia em que tudo termina
A gente mal sabe que é começo
Tomamos o fim como o avesso
Aversão a tudo que não entendemos ser
Didaticamente nos dividimos
Em fim, início e meio
Vã tentativa de explicar nosso anseio
Fim do que, se tudo se reinicia?
Início de quê, se já começou há tanto?

E seguimos aqui neste eterno meio...

sábado, 15 de outubro de 2011

Tem dias que a gente...

Nos anos 60, Chico Buarque cantava: "Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu/ A gente estancou de repente ou foi o mundo então que cresceu?" Pois é, nem é novidade dizer que ele estava e continua certo.
Tem dias que tudo parece o avesso do que pensávamos ser. E nestas ocasiões, tentar agradar, parece cada vez mais inútil. As pessoas não se importam. Agem como se nós estivéssemos envoltos em uma dura carapaça, como se nossa natureza estivesse pronta a aguentar qualquer tipo de ofensa ou humilhação por motivo algum, por pura nobreza, sei lá o quê. Enquanto isso, apodrecemos, morremos por dentro, até sentirmos nossa alma partir para longe, criar um universo paralelo, onde aquelas mesmas pessoas talvez fossem melhores conosco, onde se importassem com nossos sentimentos, nosso estado físico e psíquico... partir ou morrer, diria Chico - não deixaria de ser mais uma defesa da alma contra a agressividade
do mundo que nos cerca. Morrer obviamente como uma conotação a abster-se e levar a vida como um zumbi - morte da alma que colocamos, tolos, em tudo que fazemos pelo próximo. Partir, abstrair, não estar aqui, criar um lugar pra fugir diante do que nos agride a alma.
Tem dias que a gente se sente...
Tem dias que a gente desejaria não sentir.
Mas,  lá no fim do túnel, eis que uma luz se acende como farol e nós somos levados para casa. Lá descansa sim o melhor exílio, o porto seguro, o amor raro, que confia em você de olhos vendados, quando todo o resto do mundo não se importa com seu caráter. Enfim, relaxar na confiança de quem te ama de verdade, não tem preço, e é acima de tudo o maior dos presentes

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Ani - versar - io

Aniversário
Não me proponho a analisar etmologia da palavra.
Prefiro ler em português - a n i - v e r s á  r - i o
Como se os anos se passassem qual versos
E com os anos aprendêssemos as rimas da vida
Como se, ao passar dos anos, desenhássemos nosso soneto
De fidelidade, de amor eterno, de felicidade
Aniversário
Versar os anos para eternizar o tempo. :)

Ani - versar - io

Aniversário
Não me proponho a analisar etmologia da palavra.
Prefiro ler em português - a n i - v e r s á  r - i o
Como se os anos se passassem qual versos
E com os anos aprendêssemos as rimas da vida
Como se, ao passar dos anos, desenhássemos nosso soneto
De fidelidade, de amor eterno, de felicidade
Aniversário
Versar os anos para eternizar o tempo. :)

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Amizade

Gosto das amizades despretensiosas.
Gosto das pessoas que encaram a amizade como algo leve e sereno, sem cobranças, sem arestas, sem freios, sem ovos a pisar.
Gosto do sorriso amigo e do tapinha nas costas que apaziguam qualquer coração aflito.
Gosto do olhar de maturidade de quem já compreendeu o que é ser amigo.
Gosto de saber que os anos passam, que o contato pode ser pouco, mas é, antes de tudo, um contato em todos os graus que uma amizade verdadeira possa almejar.
Gosto daqueles que sei que estão ali.
Gosto de pessoas sem birras, sem cismas, que põem cartas na mesa: prefiro essas àquelas que nos encurralam até o cheque-mate procurando "provas" de amizade verdadeira.
Ah... amizades despretensiosas, desinteressadas e leves como o vento que bate no rosto e nos traz a verdadeira paz de espírito!
Gosto de pessoas de espírito leve e riso solto, mas não do riso exagerado de quem precisa a todo custo ser centro de atenções através da piada.
Gosto da conversa corriqueira, e mais do que tudo do respeito ao silêncio e à reclusão, quando necessária.
Amo minhas leves e verdadeiras amizades e o toque suave de paz e felicidade que elas trazem à minha vida numa banal conversa de fim de dia.