sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Seca

Chora, chora
Chora, chora
Chora.... seca
seca olho
seca terra
seca, seca
seca, seca
seca ... fome
Fome de fora
Fome de dentro
passa, não passa
passa, não passa
não passa ... cansa
Cansa por fora
Cansa por dentro
de fora pra dentro .... seca, seca
de dentro pra fora ... chora, chora
vazio de dentro... úmido
vozio de fora seco
olhares de dentro, quente - esperança
olhares de fora,  frio - ausência
Seca, seca
seca esperança

"Eu voltei para juntar pedaços"

"Eu voltei para juntar pedaços de tudo aquilo que passei"... é assim que quero entitular e iniciar este post. Uma canção, mais uma, como tantas que nostalgicamente eu toco e repito nas cirandas da minha vida.
"Regressar é reunir dois lados à dor do dia de partir".
Anos se passaram da minha partida. Abandonei a escrita, a prosa, à poesia, a quem oportunamente recorria em vezes de desespero e secretamente para em seguida amassar o papel, ou socá-lo em uma gaveta esquecida.
Fiquei de mal com escrever... ao passo que uns passaram a querer me desvendar pela escrita.
Mas a escrita nem sempre é a vida que se leva. Por vezes é a vida que se queria levar, ou a vida que se deseja evitar
Doeu usar por tanto tempo a gaveta

Cinzas

Ela tinha fogo nos olhos
Eles queimavam tudo o que ela sonhava
Era uma espécie de Midas às avessas
O que desejeva mais, virava cinzas ao seu contemplamento

Descobriu assim que a vida era efêmera
Em anagrama a vida “é mera fé”
O que mais importa é o que não se vê

Então ela fechou os olhos antes que pudesse a beleza contemplar
Antes que pudesse a magia estragar
Antes que as cinzas transformassem seu encantamento
Antes que mais uma vez se descobrisse infeliz

Seus olhos cerrados abriam as portas aos sentimentos
E ela os permitiu
Beirou o abismo de olhos fechados confiando no que sentia
Transgrediu regras, ultrapassou fronteiras do que conhecia
E seu sorriso a iluminou de forma que nem mais se lembrara das cinzas

Em um dado momento, no entanto
Seus pés descalços passaram a sentir o calor e ela caiu
E era alto, e frio, e nauseante
Ela caía sem flores no chão para o pouso
Ela caía sem os risos do palhaço que tropeça
Ela caía sem a graça da folha no outono
Ela caía sem a magia da pluma ao vento
Ela caía
E caía
E caía
Em si
Em cinzas

Sim, seus olhos novamente estavam abertos
A pregar-lhe mais uma peça
Quem sabe a última
Pois ela descobrira que não poderia contemplar com olhar
Nem com os ouvidos, o olfato, o tato
Tampouco com seu sexto sentido

Em tudo ela se enganava
E às cinzas sempre retornava
Recolheu-se do pó e se refez naquele instante
A mulher que não queria ser.

sábado, 24 de maio de 2014

Meios

No dia em que tudo começa
A gente não sabe que é o fim
O qual se separa de qualquer princípio
Pelos meios
No dia em que tudo termina
A gente mal sabe que é começo
Tomamos o fim como o avesso
Aversão a tudo que não entendemos ser
Didaticamente nos dividimos
Em fim, início e meio
Vã tentativa de explicar nosso anseio
Fim do que, se tudo se reinicia?
Início de quê, se já começou há tanto?

E seguimos aqui neste eterno meio...

Meios

No dia em que tudo começa
A gente não sabe que é o fim
O qual se separa de qualquer princípio
Pelos meios
No dia em que tudo termina
A gente mal sabe que é começo
Tomamos o fim como o avesso
Aversão a tudo que não entendemos ser
Didaticamente nos dividimos
Em fim, início e meio
Vã tentativa de explicar nosso anseio
Fim do que, se tudo se reinicia?
Início de quê, se já começou há tanto?

E seguimos aqui neste eterno meio...